Na semana da III Ação Potiguar de
Incentivo à Leitura, promovida pelos Jovens Escribas, o escritor
Márcio
Benjamim esteve na UnP e concedeu uma entrevista ao PET – Literatura do RN em
que falou sobre a sua formação como leitor e seus projetos.
Como e quando você começou a escrever?
Comecei a escrever porque sempre
gostei muito de ler. Minha mãe e meu pai sempre gostaram de leitura, meu pai,
em especial, sempre leu muito, não só livros, mas jornais e revistas. Por
crescer nesse meio acho que seria praticamente impossível não gostar de
leitura, de livros, por isso não consigo dizer quando comecei a ler e até mesmo
a escrever, pois da leitura para escrita foi um pulo. Em 2013, completo 20 anos
de trabalho com a escrita. Antes não escrevia muito bem, até hoje eu não
escrevo, mas com o passar do tempo fui melhorando, até que algum dia eu possa
dizer que sou bom escritor. Acho que é importante dizer que não existe e nunca
vai haver um escritor sem que esse seja primeiro um bom leitor. Os maiores
autores são excelentes leitores.
Porque a escolha do terror e qual a relevância desse tema na sua vida?
Certo dia li numa orelha de Stephen
King que todos os escritores têm um filtro pelo qual passam as histórias e que
estas são moldadas de modo que nelas só haja aquilo que o escritor quer ou se
identifica. Esse é um processo que acontece naturalmente, que, em outras
palavras, poderia chamar de uma poética. A temática do terror ainda passa por
muitos preconceitos, é um tema um tanto marginalizado e em meio a tantas
produções de suspense, ficção científica, o leitor não sabe bem a diferença
entre esses gêneros. Digo isso, pois ainda hoje há pessoas que me perguntam:
“você escreve livros de suspense?”. Então respondo que meu livro é de terror,
não é suspense. Quando pequeno sempre gostei muito de ouvir historias de
terror, por isso talvez eu traga essa paixão por escrever livros com essa
temática.
E quanto ao seu público-alvo? Tem algum especifico?
Não, eu não escrevo para ninguém
específico e cada vez mais tenho recebido um feed back muito bom dos meus
leitores que são dos mais diversos lugares e com idades diferenciadas. Outro
dia fui convidado a ir ao Marista e fui bombardeado de perguntas por um batalhão
de crianças de no máximo 10 anos de idade. Assustei-me quando muitos deles
afirmaram adorar The walking dead. Me pergunto onde estão as mães dessas
crianças que não sabem que essa e uma série muito forte, eu no lugar deles se
visse um zumbi comendo uma pessoa viva com aquele sangue todo saindo, iria sair
correndo. Até hoje eu fico um pouco relutante ao ver coisas daquele tipo. Até o
coitado do Harry Potter que julgava ser tão inofensivo, assistindo um dos
filmes dele outro dia pasmei de horror frente à tv quando vi o Harry e seus
amigos dentro de uma floresta negra com centauros, tróls e aranhas gigantescas,
criaturas da noite. Se eu fosse criança sairia correndo e nunca mais dormiria
de luz apagada, mas hoje isso não acontece. As crianças estão cada vez mais
cedo se acostumando com o ambiente diferenciado do terror. É acima de tudo um
gênero que quebra o tradicional pensamento de que tudo vai acabar bem no final.
Penso até que o terror pode ser uma forma que o autor encontra de exprimir o
seu mais interno eu. É certo que existe um grande número de histórias de terror
que nunca aconteceram, só se passam e passaram na cabeça do autor, pelo filtro
autoral e foram parar lá no papel. A história de terror, assim como outros
tipos de textos, não exprime somente o que está de fora do ser humano, mas
também o seu mais profundo interior, um barulho, um estalo, o fantástico. O que
a teoria literária chama de insólito e que é provocativo, que é a distopia se
contrapondo assim à utopia. O terror passa assim a assumir um papel de exprimir
a própria condição humana, uma metáfora das nossas inseguranças.
O que você está lendo agora? Em quem você se inspira?
Gosto muito de livros “indicados”
não só por revistas que dizem o que é bom, mas por amigos. Estou lendo um livro
que inclusive virou best-seller chamado Quarto, de Emma Donoghue. A história de
uma mulher que é sequestrada, estuprada e tem um filho dentro do cativeiro. É
essa criança que conta a história a partir do seu ponto de vista, e a única
realidade que ele conhece é aquele quarto. Li e recomendo Precisamos falar
sobre o Kevin, não vi o filme, mas eu adoro a obra escrita. Quanto aos
clássicos, penso que a ideia de clássico é relativa principalmente no terror,
pois o que é clássico para você pode não ser para mim. Assumo que tenho certa
dificuldade em me adaptar a esses contos mais antigos, prefiro esse terror mais
recente, acho que os antigos já são de certa forma muito “batidos”, pois já
sabemos o que vai acontecer, são muito previsíveis.
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