sábado, 29 de junho de 2013

Encontro com escritores: entrevista com Márcio Benjamim


Na semana da III Ação Potiguar de Incentivo à Leitura, promovida pelos Jovens Escribas, o escritor
Márcio Benjamim esteve na UnP e concedeu uma entrevista ao PET – Literatura do RN em que falou sobre a sua formação como leitor e seus projetos.

Como e quando você começou a escrever?
Comecei a escrever porque sempre gostei muito de ler. Minha mãe e meu pai sempre gostaram de leitura, meu pai, em especial, sempre leu muito, não só livros, mas jornais e revistas. Por crescer nesse meio acho que seria praticamente impossível não gostar de leitura, de livros, por isso não consigo dizer quando comecei a ler e até mesmo a escrever, pois da leitura para escrita foi um pulo. Em 2013, completo 20 anos de trabalho com a escrita. Antes não escrevia muito bem, até hoje eu não escrevo, mas com o passar do tempo fui melhorando, até que algum dia eu possa dizer que sou bom escritor. Acho que é importante dizer que não existe e nunca vai haver um escritor sem que esse seja primeiro um bom leitor. Os maiores autores são excelentes leitores.

Porque a escolha do terror e qual a relevância desse tema na sua vida?
Certo dia li numa orelha de Stephen King que todos os escritores têm um filtro pelo qual passam as histórias e que estas são moldadas de modo que nelas só haja aquilo que o escritor quer ou se identifica. Esse é um processo que acontece naturalmente, que, em outras palavras, poderia chamar de uma poética. A temática do terror ainda passa por muitos preconceitos, é um tema um tanto marginalizado e em meio a tantas produções de suspense, ficção científica, o leitor não sabe bem a diferença entre esses gêneros. Digo isso, pois ainda hoje há pessoas que me perguntam: “você escreve livros de suspense?”. Então respondo que meu livro é de terror, não é suspense. Quando pequeno sempre gostei muito de ouvir historias de terror, por isso talvez eu traga essa paixão por escrever livros com essa temática.

E quanto ao seu público-alvo? Tem algum especifico?
Não, eu não escrevo para ninguém específico e cada vez mais tenho recebido um feed back muito bom dos meus leitores que são dos mais diversos lugares e com idades diferenciadas. Outro dia fui convidado a ir ao Marista e fui bombardeado de perguntas por um batalhão de crianças de no máximo 10 anos de idade. Assustei-me quando muitos deles afirmaram adorar The walking dead. Me pergunto onde estão as mães dessas crianças que não sabem que essa e uma série muito forte, eu no lugar deles se visse um zumbi comendo uma pessoa viva com aquele sangue todo saindo, iria sair correndo. Até hoje eu fico um pouco relutante ao ver coisas daquele tipo. Até o coitado do Harry Potter que julgava ser tão inofensivo, assistindo um dos filmes dele outro dia pasmei de horror frente à tv quando vi o Harry e seus amigos dentro de uma floresta negra com centauros, tróls e aranhas gigantescas, criaturas da noite. Se eu fosse criança sairia correndo e nunca mais dormiria de luz apagada, mas hoje isso não acontece. As crianças estão cada vez mais cedo se acostumando com o ambiente diferenciado do terror. É acima de tudo um gênero que quebra o tradicional pensamento de que tudo vai acabar bem no final. Penso até que o terror pode ser uma forma que o autor encontra de exprimir o seu mais interno eu. É certo que existe um grande número de histórias de terror que nunca aconteceram, só se passam e passaram na cabeça do autor, pelo filtro autoral e foram parar lá no papel. A história de terror, assim como outros tipos de textos, não exprime somente o que está de fora do ser humano, mas também o seu mais profundo interior, um barulho, um estalo, o fantástico. O que a teoria literária chama de insólito e que é provocativo, que é a distopia se contrapondo assim à utopia. O terror passa assim a assumir um papel de exprimir a própria condição humana, uma metáfora das nossas inseguranças.

O que você está lendo agora? Em quem você se inspira?
Gosto muito de livros “indicados” não só por revistas que dizem o que é bom, mas por amigos. Estou lendo um livro que inclusive virou best-seller chamado Quarto, de Emma Donoghue. A história de uma mulher que é sequestrada, estuprada e tem um filho dentro do cativeiro. É essa criança que conta a história a partir do seu ponto de vista, e a única realidade que ele conhece é aquele quarto. Li e recomendo Precisamos falar sobre o Kevin, não vi o filme, mas eu adoro a obra escrita. Quanto aos clássicos, penso que a ideia de clássico é relativa principalmente no terror, pois o que é clássico para você pode não ser para mim. Assumo que tenho certa dificuldade em me adaptar a esses contos mais antigos, prefiro esse terror mais recente, acho que os antigos já são de certa forma muito “batidos”, pois já sabemos o que vai acontecer, são muito previsíveis.

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