terça-feira, 30 de setembro de 2014

Entrevista com escritor: Antônio Francisco


O poeta Antônio Francisco foi convidado especial da IX Jornada de Culturas Brasileiras, realizada no dia 24 de setembro. Atendendo ao convite do PET, chegou cedo e concedeu uma entrevista.

Kennedy - Antônio Francisco, seja bem-vindo à UnP! Para iniciarmos a nossa conversa, gostaria de ler um trecho do artigo de Clotilde Tavares publicado, em 2002, na Tribuna do Norte:
Curiosamente, resolveu assumir oficialmente a condição de poeta há apenas dois anos, e é como se uma represa de inspiração, há tanto tempo armazenada, de repente se rompesse sob o impacto de um poderoso cataclismo.

Aproveitando a metáfora de Clotilde Tavares: quando caiu a primeira gota daquilo que viria a se tornar uma represa – o primeiro contato com o cordel?

Antônio Francisco -Eu digo assim:
Enquanto o sapo cantava na boca do cacimbão,
Titia estava debaixo da chama do lampião,
Lendo pra nós o cordel Juvenal e o dragão.
E toda a noite era assim a cena se repetia,
Entre os cascos do cavalo do vaqueiro Zé Garcia,
Ou entre os segredos de coco verde e melancia.


Meu primeiro contato com o cordel foi por meio de minha tia, com ela aprendi a ler os cordéis e sempre gostei de estar entre os cantadores de violas, ou fazendo paródias. Naquele tempo, minha vida era centrada em correr de bicicleta e jogar bola, então ficou muita coisa guardada dentro de mim. Mas hoje em dia eu começo a me lembrar de quando estava no exército e das paródias e poesias que fiz quando fui para São Paulo. Agora, publicar mesmo, eu publiquei já depois de velho.


Kennedy - Quando começou a criar seus cordéis e percebeu que tinha talento?

Antônio Francisco - Foi interessante. Eu fiz um cordel e mostrei a Luíz Campos - um mestre da literatura de cordel e grande poeta - ele perguntou quem fez. Eu disse: foi eu! Ele respondeu: ‘Mas homi é dez sílabas, a terceira sílaba é tônica, a sexta e a décima, é uma maneira mais difícil de escrever.’ Foi assim que escrevi e comecei, Crispiano Neto foi quem disse: ‘eu vou publicar’.

Kennedy - Você costuma fazer viagens de bicicleta. Como elas influenciaram em sua escrita e na sua vida?

Antônio Francisco - Quando se chega a uma certa idade você tem um certo conhecimento guardado e as viagens me ajudaram muito, porque conhecer pessoas é muito interessante. Eu conheci muita gente em situações difíceis. Uma vez, cheguei debaixo de uma bueira (ponte), eu e mais dois, lá um cara estava cozinhando e perguntei a ele se nós o estávamos incomodando, ele disse: ‘Não isso aqui é público, estou aqui porque preciso e moro aqui debaixo, vocês podem ficar à vontade.’ Nós tomamos um banho lá e ele disse: ‘Eu num chamo vocês para almoçar porque o meu comê é de esmola. E eu disse: eu como! Almocei com ele e nos tornamos amigos, voltei lá outras vezes e até sua morte mantivemos amizade. Outra vez conheci um grupo de ciganos, aqueles caras que fazem aviãozinho (artesanato). Para mim foi uma aprendizagem muito grande ver como eles vivem. Conheci muita gente interessante durante essas viagens, aprendi a pedir carona, pedir dormida.






A entrevista foi interrompida por uma boa causa: a visita às turmas da Escola Municipal IV Centenário, que haviam lido e dramatizado o cordel Os animais têm razão. Os alunos ficaram eufóricos com a presença do poeta que brindou as turmas com a recitação performática da sua poesia, tendo sido aplaudido vivamente pela garotada.

CLIQUE AQUI e confira as fotos!



Nenhum comentário:

Postar um comentário