terça-feira, 7 de agosto de 2012

Chicletes, lambidinha e outras crônicas.


Na próxima quinta-feira, dia 09, a escritora Ana Elisa Ribeiro (BH) lançará o seu mais recente trabalho, o Chicletes, lambidinha e outras crônicas. A escritora estará assinando o seu livro a partir das 19h, no Nalva Café Salão, na Ribeira, vizinho ao Procon. Na ocasião, o escritor Márcio Benjamin também estará lançando o Maldito sertão. Abaixo segue a entrevista concedida aos alunos do PET – Literatura do RN na semana da Ação Potiguar de Incentivo à Leitura que foi promovida pela Jovens Escribas no último mês de maio.



PET- Quando você disse “quero ser escritora”?

Ana: Eu não sei se algum dia disse isso. Bom, eu pensei: “acho que eu escrevo razoavelmente bem”. O efeito que os meus textos causavam em quem lia era interessante, mas durante muito tempo achei que todo mundo escrevia também. Para mim era uma coisa meio dispersa até eu notar que eu tinha uma facilidade, uma rapidez. Agora essa coisa da escritora no sentido de artista é um negócio que ainda não aconteceu. Eu faço as coisas, atendo as coisas. Confundo muito a minha vida de escritora e a profissional, de professora. É tudo muito junto. Eu gosto muito de escrever texto acadêmico do mesmo jeito que gosto de escrever poema. E o texto acadêmico é, para mim, um prazer. Para muita gente, é um negócio mais duro, mais obrigação. Eu não vejo assim, para mim é tudo escrever. Meu trabalho está na palavra, na linguagem. Não me autointitulo escritora neste sentido do artista diferente, captador das coisas.

PET- Como é seu trabalho com a escrita?

Ana: Eu escrevo todo dia alguma coisa de algum setor. Ou é poema, ou é uma crônica, ou é uma coisa acadêmica. Escrevo todo dia, de algum jeito dentro do meu cotidiano, não tem uma grande preparação, uma grande disciplina. Eu sento de manhã, tomo café, fumo um Hilton e escrevo. Não tem esse glamour, não. Aliás, é uma coisa bem tosca: sento e escrevo. Pode ser que eu tenha que fazer um ensaio técnico sobre alguma coisa, pode ser um poema. Eu diria que escrever é um jeito de levar a vida.

PET- Você também é professora. Até que ponto a professora atravessa a escritora?

Ana: Eu acho que é o contrário. Se tem uma escritora, no sentido artístico, é ela que atravessa a professora. É bem comum as pessoas lerem meu texto acadêmico e dizerem: “nossa você escreve um texto acadêmico tão leve". Eu sinto que o texto acadêmico que eu produzo é muito atravessado pelo literário. Imagina isso na linguística! Então não é que escreva um texto de linguística querendo ser de literatura, mas tem uma pegada ali, que é a pegada de cronista. Então o texto não sai com aquela dureza acadêmica estereotipada. Eu gosto que entendam o que escrevi, é um ponto fundamental para mim. Acho que a professora foi o jeito que encontrei para pagar as minhas contas, porque como escritora seria muito complicado. Adoro dar aula, adoro gente interessada, inteligente. Poderia ter sido médica como meu pai, o pessoal achava que eu iria ser também. Mas eu não gosto de gente doente, eu queria gente acelerada e com saúde. Não tinha a menor pretensão de salvar ninguém, a não ser pela palavra. Também não queria ser freira, então decidi ser professora e trabalhei muito para isso. Achei um jeito de “sobreviver” dignamente lendo e escrevendo, no final é isso que atravessa a professora.

PET- Você escreve crônicas, contos e poemas. Tem um gênero preferido?

Ana: Não, cada um é um nicho diferente, um jeito diferente de sentir e produzir Poema é um negócio que eu domino menos, no sentido de "Vou sentar amanhã às 14h00hs e vou escrever um poema". Não acontece desse jeito, na verdade, o poema me domina. Na crônica eu consigo fazer isso, sentar e escrever. Conto é só por encomenda. Não é um gênero que eu pratique muito, só quando alguém me pede. O texto acadêmico é todo por encomenda, mas ele é muito frequente e você acaba treinando. Então não tenho um preferido, cada gênero tem um jeito de tocar cada um e estão todos presentes. A poesia é a mais teimosa, eu diria.

PET- Ana, você está em Natal fazendo parte do elenco da Ação Potiguar do incentivo à leitura, evento que busca trazer aos jovens momentos de bate papo com escritores. O que você acha que pesa no ato de trabalhar com a leitura?

Ana: Eu acho que pesa trabalhar com a leitura em qualquer circunstância.  Acho que o exemplo é fundamental. Eu não poderia dizer as coisas que digo se não fosse leitora. Agora, o fundamental de tudo isso é a paixão que você demonstra pelas coisas. Eu acho que uma ação como esta ou na minha tarefa diária de professora tem um negócio que as pessoas percebem “tem que ter brilho nos olhos”. Acho que o importante é ter pessoas nesta ação que seduzam leitores.

PET- Em uma entrevista ao site Digestivo cultural você comentou sobre o seu questionamento sobre seu primeiro livro de poesias no ano de 1997, Gostaria que você falasse um pouco quando você afirmou: “Autor não pode ter medo de leitor. É preciso ter bons leitores, claro, mas não permissivos.”

Ana: Permissivo no sentido de não poder passar qualquer coisa, tem de ser um leitor capaz de discernimento. Eu acho que o que faz a coisa mudar de patamar é a hora em que você publica. Muita gente escreve e não publica nada. O livro, principalmente de poesia, você tem de pagar e tem que arcar com tudo. Isso acontece há muito tempo, não é uma coisa de agora. O primeiro livro de Raquel de Queiroz foi seu pai que bancou. João Cabral de Melo Neto, Drummond, também pagaram as primeiras edições, tiravam do próprio bolso. Naquela época não tinha a coisa de digital, não tinha gráfica. Essa coisa de você botar sua edição na roda é fundamental, e mesmo sendo uma edição pequena, editora desconhecida, o livro ganha asas, vai para lugares que você não imagina e pára nas mãos de gente que você não imaginou. Por causa disso, começam a acontecer coisas. Alguém lê e acha legal, fala para os outros, conta para um jornalista, então acho que não pode ter medo de entrar na roda e ter medo do leitor. Na hora de publicar, eu não vou ter mais domínio sobre nada, o leitor vai achar o que ele quiser. E eu tenho medo de crítica, aliás, todo mundo tem medo de crítica. Quando eu lancei meu primeiro livro, tinha vinte anos e fazia graduação em Letras. Eu tinha uma professora muito bacana e a mãe dela era uma crítica literária muito boa, e pedi que elas lessem e me ajudassem a escolher os poemas para esse livro. Elas muito generosamente me ajudaram a escolher. A mãe dela me mandou um bilhete com um recado assim: “gosto”, “você escreve bem”, “seu livro é legal, mas eu acho que você deve tirar todos os poemas que tem humor, porque eu não gosto de poemas com piadinhas”. Aquilo me fez pensar muito. Acontece que o humor é um traço meu, no poema, na crônica. Então, eu disse não! Entre os mineiros, ela é uma pessoa que respeito muito, mas desobedeci porque o humor é meu. Ela pode não gostar. Então é isso, como você desafia uma autoridade? Eu tive que “peitá-la”, coisa de autor. Mantive e de fato foi quando me sobressaí: todos reconhecem o poema porque é engraçado. Mas eu podia ter obedecido; se tivesse obedecido, eu não sei o que teria feito. Não é muito minha língua a coisa séria, sisuda. É a língua dela “o sisudo”, é uma pessoa que trabalha com texto mais duro, mais sério. Mas, a escritora sou eu, tenho que me encontrar. Ela é uma leitora qualificada, a gente tem que procurar leitores, leitores comuns, não é? E o leitor qualificado que é esse tipo de leitor que você respeita: a escritora há quarenta anos, o cara que é crítico literário, um professor da faculdade, todos leitores qualificados que você pode consultar. Acho que não deve ter medo não.

PET: Agora para terminar, você poderia recitar aquele poema que deixou marcas e fez história? 

Ana: Aquele da Sueca? Salvando o relacionamento. Eu leio em todos os festivais a que vou.


Eu sei, meu bem
que o seu sonho é comer
uma sueca alta, loura, boa.
Mas finge meu amor, fecha o olho e finge
o meu cabelo a gente tinge.







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