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Marcelino Freire com os bolsistas do PET |
PET - Sabendo que você tem
projetos que envolvem a literatura, pergunto: por que o trabalho com a leitura?
Você também acredita na humanização pela literatura?
Marcelino - Sim, eu acredito. Lá
em São Paulo, organizo um evento que criei há sete anos, que acontece todo mês
de novembro, o Balada Literária, acontecimento no qual temos cinco dias de
debate com escritores nacionais e internacionais, shows, tudo de graça, porque
a minha inquietação é que a literatura seja menos chata e se você não encara a
literatura como algo vivo, como algo que faz parte da vida da gente, fica
difícil e vira uma obrigação. Então, o que falta são métodos para tornar a
literatura mais viva, mais vigorosa e não aquela chatice sem fim. A Balada
Literária nasce por isso, é um evento descontraído, sem frescura, onde todos os
autores estão muito próximos dos seus leitores conversando, interagindo e
discutindo. Já passaram por lá desde o grande crítico Antônio Cândido até o
Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto.
PET - Como é escrever e apoiar a
literatura sabendo que vivemos numa sociedade onde dizem: “não leia!”? Isso lhe
dá força ou acaba sendo um pouco frustrante para o trabalho?
Marcelino - Me dá fôlego. Eu acho
que em qualquer área de trabalho, seja na literatura, música, pintura, passamos
por dificuldades. Como eu gostava muito de ler e escrever, fui procurar
trabalhar em áreas muito próximas da escrita para que eu não ficasse tão
distante daquilo que gostava. Afinal, não adiantava eu, que gostava de ler e
escrever, fazer mecânica, por exemplo, não tenho habilidade nenhuma para isso.
Claro que o dinheiro é importante e eu não tiro a razão da mãe que quer que o
filho seja engenheiro, advogado ou médico, mas é preciso que a gente saiba
também o que é melhor para gente.
PET - Você trabalha como editor, no
coletivo EDITH. Então, pergunto: esse trabalho influi e/ou contribui com o
trabalho como escritor?
Marcelino - O meu trabalho como
editor, na verdade, vem da minha inquietude. Eu não sou o tipo de escritor que
escreve em casa e diz: “agora vou escrever um conto”, e acendo um incenso
(risos). Primeiro, que isso é um crime fazer isso antes de escrever porque você
vai espantar as pessoas com as quais você vai trabalhar (mais risos). Então, eu
tenho essa inquietação de fazer evento, de escrever, de não ficar só no livro.
Mas o editor não atrapalha, porque acho que esse é também um trabalho de
escritor
PET - Para terminar, quem é o
escritor Marcelino Freire?
Marcelino - Primeiro, eu escrevo
para me vingar, de um amor que foi embora, de uma saudade, da Rede Globo, do
Pe. Marcelo (risos)... Sempre quero me vingar de alguma forma e é a partir da
escrita que eu faço isso. É uma inquietação, uma vontade de dizer as coisas, de
registrar a minha indignação. Sou um escritor nordestino, sertanejo, filho de
retirantes, e a minha literatura dá conta desse fala sertaneja, dessa teimosia,
pois eu escrevo porque sou teimoso, porque quero dar vexame. Então, eu sempre
procuro sair da minha redoma e tento interferir na comunidade, na geografia do
lugar, fazendo tudo teimosamente, sem dinheiro nenhum.
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