domingo, 2 de setembro de 2012

Entrevista com Marcelino Freire

Marcelino Freire com os bolsistas do PET



PET - Sabendo que você tem projetos que envolvem a literatura, pergunto: por que o trabalho com a leitura? Você também acredita na humanização pela literatura?

Marcelino - Sim, eu acredito. Lá em São Paulo, organizo um evento que criei há sete anos, que acontece todo mês de novembro, o Balada Literária, acontecimento no qual temos cinco dias de debate com escritores nacionais e internacionais, shows, tudo de graça, porque a minha inquietação é que a literatura seja menos chata e se você não encara a literatura como algo vivo, como algo que faz parte da vida da gente, fica difícil e vira uma obrigação. Então, o que falta são métodos para tornar a literatura mais viva, mais vigorosa e não aquela chatice sem fim. A Balada Literária nasce por isso, é um evento descontraído, sem frescura, onde todos os autores estão muito próximos dos seus leitores conversando, interagindo e discutindo. Já passaram por lá desde o grande crítico Antônio Cândido até o Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto.

PET - Como é escrever e apoiar a literatura sabendo que vivemos numa sociedade onde dizem: “não leia!”? Isso lhe dá força ou acaba sendo um pouco frustrante para o trabalho?

Marcelino - Me dá fôlego. Eu acho que em qualquer área de trabalho, seja na literatura, música, pintura, passamos por dificuldades. Como eu gostava muito de ler e escrever, fui procurar trabalhar em áreas muito próximas da escrita para que eu não ficasse tão distante daquilo que gostava. Afinal, não adiantava eu, que gostava de ler e escrever, fazer mecânica, por exemplo, não tenho habilidade nenhuma para isso. Claro que o dinheiro é importante e eu não tiro a razão da mãe que quer que o filho seja engenheiro, advogado ou médico, mas é preciso que a gente saiba também o que é melhor para gente.


PET - Você trabalha como editor, no coletivo EDITH. Então, pergunto: esse trabalho influi e/ou contribui com o trabalho como escritor?

Marcelino - O meu trabalho como editor, na verdade, vem da minha inquietude. Eu não sou o tipo de escritor que escreve em casa e diz: “agora vou escrever um conto”, e acendo um incenso (risos). Primeiro, que isso é um crime fazer isso antes de escrever porque você vai espantar as pessoas com as quais você vai trabalhar (mais risos). Então, eu tenho essa inquietação de fazer evento, de escrever, de não ficar só no livro. Mas o editor não atrapalha, porque acho que esse é também um trabalho de escritor

PET - Para terminar, quem é o escritor Marcelino Freire?

Marcelino - Primeiro, eu escrevo para me vingar, de um amor que foi embora, de uma saudade, da Rede Globo, do Pe. Marcelo (risos)... Sempre quero me vingar de alguma forma e é a partir da escrita que eu faço isso. É uma inquietação, uma vontade de dizer as coisas, de registrar a minha indignação. Sou um escritor nordestino, sertanejo, filho de retirantes, e a minha literatura dá conta desse fala sertaneja, dessa teimosia, pois eu escrevo porque sou teimoso, porque quero dar vexame. Então, eu sempre procuro sair da minha redoma e tento interferir na comunidade, na geografia do lugar, fazendo tudo teimosamente, sem dinheiro nenhum.

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