quinta-feira, 10 de maio de 2018

Encontro com Ayrton, Victor e Maluz


Dia 09/05, no auditório D2 da UnP – Floriano Peixoto, ocorreu o penúltimo encontro com escritores do primeiro semestre de 2018. A entrevista com os três escritores potiguares, a saber: Ayrton Alves Badriyyah, Maluz Maheros e Victor H. Azevedo, alguns dos integrantes da Antologia Blackout (2018), foi mediada pelo petiano Afonso Barroso. As perguntas dirigidas a eles abordaram assuntos como: o contato com a literatura, na qual eles assinalaram a importância de poetas como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Hilda Hilst e alguns autores da geração mimeógrafo, como Ana Cristina Cesar e Paulo Leminski; suas vivências e influências para seu processo criativo, como também o trabalho artesanal na produção das publicações da Munganga Edições (editora independente gerida por eles), que possui um catálogo diversificado - composto por poetas como o chileno Luis Omar Cáceres (1904-1943) e o americano Jack Spicer (1925-1965). Nesse encontro, os alunos da Escola da Educação tiveram a excelente oportunidade de conhecer a produção literária artesanal feita por jovens escritores potiguares. Abaixo uma amostra da poesia de cada um dos autores convidados:

[AYRTON ALVES BADRIYYAH]

me obrigaram a engolir um cavalo de aço
eu talhado na madeira podre
sustentáculo das palafitas margeantes deste rio
que rasga o meu corpo de forma precária
rio escoando por caminhos de cupins
de homens que trocam a sua arcada dentária
por um punhado de algemas na língua
e me despertam mais uma vez nesta tarde mal-dormida
com esse toque que seria gostoso
se não fosse frieza metálica

eu engoliria o cavalo mesmo que ele fosse de pano
mesmo que não fosse cavalo
eu trocaria a minha língua por uma faca
que despisse esses homens
dos seus uniformes de superfícies
homens que molham meu ânus
com uma sede de 500 mil cactos

minha cabeleira farta é impregnada
por um cheiro de lençol que espera
minha cama é um leito seco de um rio
preenchido com o sabor mental do gozo
desses homens que não puderam amar outros homens
e transformaram suas testas e seus lábios
em mais um pedaço de terra seca

***

[MALUZ MAHEROS]

ancestralizada por palavras de outras mulheres
me tornei pesada e avulsa
mas forte
meu útero efervescente
burila as palavras para o poema

disperso meus passos nos paralelepípedos dessa cidade
perdida
com as pernas lisas
diluo os pedaços de meus malfeitores
derramando suor-amálgama

com os calcanhares friccionando o solo
esburaco
preparo o asfalto para a chegada de novas sementes

em espelhos com capas e títulos
desmancho-me
emparedada
reconstruo-me

o farfalhar de páginas brancas enfileiradas
vestem meu novo corpo

a cada velha deusa hospedada em minhas pálpebras
retiro novos significados
refaço meu idioma

***

[VICTOR H. AZEVEDO]

Somos pássaros extintos.
Nosso nome científico não
consta em livros de biologia
muito menos nos calhamaços
que sustentam os sonhos onívoros.
Temos nossas penas tingidas de
dilúvio, fermentadas de arrepio.
E mesmo assim nosso ninho
é rodeado pelo indefinido das
espadas. A saliva das nossas asas
limpam as gargantas dos solitários.
As brasas que respingam do
nosso pouso alimentam as
pequenas santidades. Em dias
movediços & adolescentes, ficamos
pelas redondezas, mordiscando
a orelha dos namorados. Bebericando
desse sol sonífero. E não há
jaula de dedos que vá nos capturar
e nos colocar em exposição.

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