quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Escritores potiguares em ascensão: Gonzaga Neto

Gonzaga Neto nasceu no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1993, mas considera-se natalense, pois mora em Natal desde os dois anos e meio de vida. É redator publicitário e graduando do curso de Comunicação Social (UFRN). Gonzaga ficou inicialmente conhecido por seus poemas publicados na sua página do Facebook, Amorragia. E recentemente lançou o seu primeiro livro, Hipérbole. O PET Letras conheceu um pouco mais sobre este escritor, seu processo de criação e o que move sua escrita. Confira:



Quem é Gonzaga Neto?

Eu, ué. Assim mesmo, como eu sou e finjo que sou. Ou como o Torquato diria, um “pronome pessoal intransferível [...] sem grandes segredos dantes [...] desferrolhado indecente”. Tem mistério não. Resumidamente (e não filosoficamente) falando: sou um “boe” de 23 anos, perdido como vários outros da mesma idade, que ama Natal e a Literatura e espera, um dia, quem sabe, talvez, viver nela e dela.

Como foi o seu chamado para literatura?

Não tive uma espécie de chamado ou coisa do tipo. Nada muito romântico. Sempre gostei de criar mas nunca parei pra escrever, de fato. Achava algo distante. Admirava “quisó” alguns amigos que escreviam poesia, e pensei que talvez pudesse fazer o mesmo. Foi aí que, em 2013, eu fui transferido da portaria principal do hospital onde eu trabalhava, para a portaria lá dos fundos, um lugar mais calmo e pá, aí quando não estava entregando as chaves ou verificando a identidade de algum visitante, ficava escrevendo nos rascunhos (até criar vergonha na cara e comprar um caderno). No mesmo ano criei uma página no Facebook (amorragia), onde postava coisas diariamente e aprendi pra “cacete” (principalmente a respeito do que eu não queria escrever); a página ganhou uma boa repercussão (hoje, tem 40 mil curtidas) e daí em diante uma coisa foi puxando a outra. 





Você surgiu na internet, como foi esse processo de crescer na internet e depois ir para um livro?

Uma vez eu estava comentando a respeito disso e disse que tinha feito o caminho inverso, da internet para os livros, e fui questionado se esse não era o “novo” caminho natural. Tenho pensado muito a respeito disso e o que tenho a dizer é que internet me abriu boas portas e me fez ter um pouco mais de maturidade. As pessoas costumam não gostar de ler determinadas coisas e, se não tiver cuidado, a gente acaba escrevendo apenas aquilo que sabe que as pessoas irão gostar (entenda como “curtir” e “compartilhar”), é uma porcaria ficar dependente disso, saca? Por isso sempre falo que com o tempo fui amadurecendo minha escrita ao ponto de, hoje, mal escrever na página, ou só escrever quando tenho vontade (coisa que você acaba se forçando a fazer diariamente, quando tem que alimentar). Perdi minha dependência dela, mas sou grato a toda visibilidade que me deu.




Quais as suas referências?

“Vish”! Varia muito dependendo da época. Mas, de modo geral (atualmente), os textos escritos para serem lidos têm um pouquinho de Sinhá (RN/SP) e do Diego Morais (AM). Já os que são escritos para serem ouvidos, sem dúvidas, sofrem influência do Pedro Bomba (SE), Allan Jones (SE) e Marcelino Freire (PE). Sem falar dos maravilhosos amigos natalenses (Guilherme Henrique e Gessyka) que sempre me esbarro com um ou outros nos textos que faço. 

Poderia falar um pouco do seu livro?

Hipérbole é um recorte da minha personalidade, levemente (sic) exagerada. O livro vem sendo pensado faz um tempinho, e o nome foi a primeira coisa que pensei. (Eu tenho uma espécie de hobbie de pensar nos nomes dos futuros livros). A ideia era dividi-lo em cinco figuras de linguagens (metáfora, metonímia, eufemismo, anáfora e hipérbole) e juntar todos os poemas de uma forma que se encaixassem nos capítulos que, de certa forma, fazem metáforas com os temas abordados em cada um. Eufemismo, por exemplo, fala sobre desilusões, quando a coisa tá ruim mas a gente acaba mentindo e dizendo que tá tudo bem. Foram sete meses de muitas mudanças, até chegar o resultado final. Eu queria que cada texto estivesse onde deveria estar. Desta forma, Hipérbole pode ser lido de três maneiras diferentes, e cabe ao leitor escolher como e por onde irá começá-lo. 

E quais são os projetos futuros? 

Confesso que não tenho pensado a respeito disso, estou curtindo essa fase hiperbólica e indo lançar em alguns cantos fora daqui. Mas espero lançar mais livros futuramente (já tenho alguns nome e conceitos), e continuar com as intervenções do Dirocha (coletivo de poesia que leva arte para as ruas da cidade). Em suma, ficar de boa e melhorar minha arte.




Só hoje 
morri 
milhões de vezes 
ao pensar 
em te querer 

Meu amor 
perdeu o cabimento 
transbordou 
e foi tanto 
que deixou de ser 

(Hipérbole, 2016)

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