domingo, 15 de abril de 2018

Sobre o Encontro com Escritores de abril, com Arthur Dantas


Na última quarta (11/04), o PET - Literatura no RN realizou o Encontro com Escritores do mês de abril, com o poeta Arthur Dantas. Nascido em Acari, Arthur é graduado em Letras pela UFRN, mestre em Estudos da Linguagem pela mesma instituição, e professor de Língua Portuguesa na Escola Estadual José Moacir de Oliveira. O poeta utiliza a internet como suporte para a sua poesia, atualizando tanto suas redes sociais como o seu blog, Cheiro de Sombra, com a sua obra. Em 2018, lançou o livro horizonte industrial em formato físico. Antes disso, já havia publicado exercício sem poesia em formato digital, que pode ser acessado aqui.




O Encontro se iniciou com a declamação de poemas do autor pela petiana Layse Delfino. Logo após, a discussão foi conduzida pelo petiano Lucas José e girou em torno de várias temáticas. Inicialmente, o poeta comentou um pouco dos livros que marcaram a sua trajetória como leitor e as suas inspirações. Nesse momento, o autor relembrou o seu primeiro livro lido, Harry Potter e a Pedra Filosofal, a sua desagradável primeira leitura de Dom Casmurro, obrigada pela escola, e o primeiro encontro com Clarice Lispector, com o livro A Hora da Estrela. Atualmente, os escritores que mais o atraem são os contemporâneos: o português Valter Hugo Mãe, o norueguês Karl Ove Knausgard, o brasileiro Caio Fernando Abreu etc.

Quanto à poesia, Arthur afirmou que o contato efetivo com esse gênero veio um pouco mais tarde, dentro do curso de Letras. Entre as inspirações dele, estão as poetisas brasileiras Ana Cristina César e Hilda Hilst. Além disso, o poeta citou as bandas Radiohead e The Smiths, assinalando a influência que a música tem em sua obra.

 
Sobre a sua relação com a escrita, Arthur afirmou que começou ainda quando era adolescente em Acari, uma cidade de pouco mais de 15 mil habitantes. Nos momentos de ócio, escrevia textos sobre as aflições daquele momento de sua vida, sem conhecer nenhum tipo de teoria literária. Aos risos, ele disse que esconde essa produção em uma pasta criptografada de seu computador. Apenas quando chegou em Natal, já formado em Letras e com o conhecimento teórico sobre a Literatura, encontrou a matéria-prima para a sua obra: a cidade "grande" (em comparação ao interior em que vivia), a vida comum, a vivência num espaço de indiferença, onde em um instante você descobre que houve um bombardeio na Síria e, no outro, depara-se com a propaganda de um sanduíche do McDonalds. O autor não enxerga a sua escrita como forma de superar os desafios impostos pela cidade, mas sim uma maneira de entendê-los. 

meia noite ou segunda-feira

o ar do quarto simula as janelas abertas
três luzes frias se espelham e se negam
as horas reproduzem o nada infinitamente
a semana não sangra ainda

nada se diz da noite
não há silêncio porque não importa  
o clima não importa
é meia noite e ninguém dorme oito horas hoje
 (horizonte industrial, 2018)

Um dos pontos tocados por Arthur foi a questão da poesia no meio digital. Quando indagado sobre as mutações do gênero nesse contexto, o autor apontou para o fato de que ele não vem sofrendo tantas mudanças formais, uma vez que, embora haja a mistura da poesia com outros gêneros - ele lembrou especificamente da produção de João Doederlein, que publica em seu Instagram (@akapoeta) verbetes poéticos - ou mesmo com outras modalidades artísticas, como a visual, grande parte da produção poética na internet ainda ressoa a estética inserida pelo Modernismo em nossa literatura, como o verso livre e branco. 

De acordo com Arthur, as mudanças estão mais relacionadas à recepção e à propagação da poesia, que pode alcançar distâncias antes impensáveis de maneira rápida na internet. Como exemplo, o autor citou o seu próprio blog, que é acessado por pessoas de Portugal, da África do Sul e da Alemanha. O escritor mencionou ainda a questão de se assumir como poeta: para ele, a legitimação só veio quando viu seu nome na capa do livro físico publicado neste ano, mas percebe que isso é uma bobagem, uma vez que o alcance da sua obra na internet é bem maior do que a do livro impresso e que as pessoas já o liam bem antes da publicação de horizonte industrial.


A última temática discutida no Encontro foi a inserção da arte na escola, em especial, da literatura. Arthur, que lida diariamente com a realidade da educação básica brasileira, considera extremamente importante trabalhar com a arte em sala de aula, uma vez que ela, além de entreter, é uma maneira de expandir fronteiras e de refletir mais atentamente sobre questões que passam despercebidas na correria diária. Pensando nisso, o autor afirma que o professor de Língua Portuguesa tem a possibilidade de inserir as diferentes modalidades artísticas em suas aulas como texto, o que o permite trabalhar com a leitura de uma pintura, de uma escultura etc.

Quanto à literatura, Arthur é extremamente crítico diante do modelo engessado de ensino pautado na evolução histórica das escolas literárias. Ele defende um ensino que não se restrinja às características de cada contexto literário, mas que se paute de verdade nos textos e nos significados que eles possuem, contribuindo para o desenvolvimento da capacidade de leitura dos alunos. Para que isso ocorra, é essencial que o professor seja um ávido leitor e mantenha um vínculo próximo com a literatura, pois somente assim ele poderá contagiar os alunos e propor atividades diferenciadas que fujam daquilo que é imposto pelo sistema educacional brasileiro. 

Ao final, o público realizou perguntas sobre os diversos temas tratados.


Em suma, o Encontro, além de ter sido uma excelente oportunidade para os alunos de licenciatura conhecerem um pouco mais sobre um novo talento da literatura potiguar e a poesia na era digital, foi uma proveitosa discussão sobre questões concernentes à educação, afinal, a tensão entre a mera submissão aos currículos engessados (que marginalizam a arte) e a renovação das práticas em sala de aula é constantemente trabalhada nas licenciaturas, e, nesse sentido, a fala de Arthur, que vive essa realidade, contribuiu imensamente para a formação dos que estavam presentes.

Lucas José de Mello Lopes
Discente do 3º período de Letras - Português/Inglês

Um comentário:

  1. Eu, mais uma vez, agradeço imensamente pela oportunidade e pelo carinho na acolhida. E parabenizo o trabalho.

    A.D.S.

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