sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Escritores potiguares em ascensão: Regina Azevedo


Regina Azevedo nasceu em Natal/RN no ano de 2000. Entrevistada pelo PET Letras durante a ExpoCiência, ocorrida no último dia 05 no XVIII Congresso Científico da UnP, a escritora, autora de títulos como Das vezes que morri em você (2013), Por isso eu amo em azul intenso (2015) e alguns fanzines como Carne viva o amor estanca, O amor é simples e  Carcaça. Regina falou sobre seu processo de criação, influências, do papel social do poeta, e anunciou seu próximo livro, Pirueta, ainda sem data prevista para lançamento.

Quem é Regina Azevedo?

Poeta.

Quando se deu conta de que era escritora, quando houve o chamado da literatura?

Entendi que existia a possibilidade de escrever aos 12 anos, através do Sarau do Burro e do Menor Slam do Mundo, do Daniel Minchoni, e da Sinhá, lá em São Paulo. Foi incrível ver que uma prateleira de livros não precisava ser só de gente que já morreu. Mas essa consciência e a coragem de se afirmar poeta vem muito depois, com o tempo. Hoje eu preencho questionário e me sinto muito bem em dizer que sou poeta. Poeta é o que mais gosto de ser, além de estudante, formada em tal coisa, cursando isso, bolsista daquilo, repórter de tal site...

A literatura tem o poder de humanizar, de ajudar a formar opiniões.  Como é lidar com isso tão jovem?

Não acho que a arte carregue a obrigação de ser engajada. Mas acho que, principalmente diante do atual cenário do país, ninguém pode ficar calado. Acredito muito na importância de cada pessoa, acredito muito que se todos falarem vai ficar melhor de se ouvir. Por outro lado, entendo essa responsabilidade indireta como uma oportunidade: uso a voz que tenho enquanto poeta e a relevância que posso ter pra alguém pra poder falar sobre o que acredito ser importante para mundo.


Quais as suas referências?

Por sorte, muitas das referências são também grandes amigos. Chacal, Nicolas Behr, Dimitri Rebello... Gosto muito de Angélica Freitas, Ana Martins Marques, Sinhá, Matilde Campilho. Mas também O’Hara, Anne Sexton, leio um pouco de Whitman. No início tive grande influência de Bukowski.




Como é o seu processo criativo?

Exige muita atenção. O poeta tem que ser atento. Uma das coisas que a poesia me ensinou é dar valor às pequenas coisas. Presto atenção no carro que passa, na piadinha despretensiosa de um amigo, na folha que cai... Tudo termina virando verso, poema, anotação no caderninho. Trabalho com muitas anotações, faço meus próprios exercícios de escrita e lido muito com colagens, escrevendo poemas a partir de painéis semânticos.

Você tem dois livros publicados e alguns zines, poderia falar um pouco deles? Além desses livros, você está com um livro novo a caminho, poderia falar um pouco dele também?

O Das vezes que morri em você é meu bichinho mais velho. Foi uma coisa que mudou a minha vida: lançar livro de poema aos 13 anos. Foi o início de tudo, ainda muito sem estilo, sem experimentação... Mas com alguns poemas importantes que gosto até hoje. O Por isso eu amo em azul intenso é muito amor, mesmo. O Jopa (um grande amigo que assina o prefácio do meu livro novo) diz que era um amor monocromático. E, ao repetir isso, espero que entendam que isso não significa invalidá-lo: é que no Pirueta, o próximo livro a ser lançado, o amor vem de várias maneiras. Estar em um relacionamento monogâmico na época do Azul talvez me impedisse de captar algumas outras gamas de cores do amor. O que, absolutamente, influenciou muito nos poemas daquela época. O Pirueta surgiu numa fase de ruptura de relacionamento, da morte da minha avó, muita coisa difícil... Mas estou muito contente com ele, também. Um livro cheio de poemas de amor, de amores, que é também minha estreia internacional: vai sair no Paraguai, pela editora Yiyi Jambo.

Abaixo, uma poesia do zine Carcaça:

você merecia dançar
eu acreditaria em deus por um instante
se você conseguisse dançar

nunca imaginei que pardais atormentavam saguis
e é muito difícil ver você sempre sentada

te quero do meu tamanho
te quero respirando e falando besteira

você merecia saúde
eu acreditaria em deus por um instante
se você tivesse saúde

nunca imaginei que existissem homens maus na sua rua
e é muito difícil correr e te deixar pra trás

porque você merece viver
mais do que qualquer pessoa no mundo
você merece viver



Introdução: Clara de Castro
Entrevista: Ionara Souza


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