terça-feira, 16 de setembro de 2014

Entrevista: Bruno Soares e Thiago Gonzaga

Da esquerda para direita: Thiago Gonzaga, Hugo Sales (entrevistador) e Brunno Soares


PET – Brunno e Thiago, sejam bem vindos à UnP. Para iniciarmos a nossa conversa, gostaria que vocês falassem um pouco de si:
Brunno - Boa tarde, eu me chamo Bruno Soares, tenho 28 anos, sou potiguar, escrevo desde 1998/99. Minha trajetória de escrita começa na escola, em virtude de um concurso realizado nas escolas estaduais, em que os alunos deviam fazer uma poesia. Fiz uma poesia para esse concurso e, de lá para cá, não parei. Fiz um blog e uma página no Facebook onde coloco meus poemas, contos e crônicas. Agora, acabo de lançar meu primeiro livro: Poesia de Anunciação.

Thiago - A minha história com a literatura é mais recente. Eu não me considero um escritor, minha vontade maior é de me firmar como pesquisador de literatura do RN, que é a minha paixão. Posso ser chamado de escritor também, porque fiz um pequeno livro: A felicidade é uma arma quente, mas tenho outros quatro livros publicados e todos são na área de pesquisa. A última publicação faz parte de uma trilogia, cujo último volume será lançado em 2015. Essa trilogia apresenta um balanço sobre quem está produzindo literatura no RN, e reúne entrevistas de escritores e pesquisadores do RN. Acredito que este livro será de grande utilidade para estudantes e pesquisadores daqui a 50 ou 100 anos.

PET - Como surgiu a leitura e escrita em sua vida?
Brunno - O interesse pela leitura veio de casa. Meu pai é formado em teologia e hoje estuda ciências das religiões na Paraíba, e desde pequeno eu costumava vê-lo em casa lendo. Eu achava bonita aquela cena, primeiramente sem saber sua profundidade. Ver meu pai calmo, mesmo com tudo pegando fogo em casa, vivendo uma outra coisa, num outro mundo. Então comecei a querer descobrir o que é que o deixava tão compenetrado. Depois veio o estímulo da escola, não da estrutura educacional onde estudei, mas de alguns professores. Às vezes eu escrevia um poema e mostrava ao professor e ele dizia: “vá por aí”. Ou quando identificava algo que precisava melhorar dizia: “isso não está muito bom”, e eu voltava para casa, tentava melhorar e ficava naquela briga. Hoje escrever para mim é algo natural, tão importante quanto me alimentar. À medida que você vai se descobrindo como escritor, vai se descobrindo como ser humano, social, atuante. Entendo que a poesia começa no olhar, antes de transcrever para o papel, de buscar a estética do poema, antes de tudo isso, é o olhar. A capacidade de ver situações corriqueiras, aparentemente bobas e conseguir enxergar um outro sentido ali, quando se captura esse sentido, é que se torna possível passar para a escrita.

Thiago - A minha história é bem peculiar. Eu sou filho de pais analfabetos que viviam de subempregos. Meu pai era trabalhador braçal e minha mãe empregada doméstica, de modo que eu cresci sem ter contato com os livros. Quando eu tinha por volta dos 10 anos meu pai morreu, e a vida, que já era muito difícil, ficou pior, porque minha mãe ficou sozinha tendo que criar três filhos. Essa situação me levou a sair da escola quando ainda cursava a 3ª série do ensino fundamental para ir trabalhar. Sempre digo nas escolas onde vou dar palestras, que o nosso grande problema não era ser pobre, mas a falta de perspectiva. Pois eu cresci ouvindo da minha mãe que a nossa vida era aquela, igual à dos meus avôs e dos meus bisavôs. Era uma espécie de tradição familiar - ser pessoas sem estudos e sem perspectivas de melhoras. Também trabalhava em subempregos, até que aconteceu um fato muito interessante em minha vida. Um dia eu estava procurando emprego, já adulto, e achei um jornal velho, onde havia uma melancia que eu comi. Minha vida não era fácil naquele tempo, eu vivia uma realidade bem difícil. Mas para minha felicidade, nesse jornal, havia um texto de uma escritora de nome Clotilde Tavares. Foi engraçado, porque tinha um texto dela lá e uma foto, então a princípio o que me atraiu foi a foto, pensei: “essa mulher bonita deve escrever alguma coisa interessante”. Mas eu não tinha prática de leitura até então, aos 24 anos nunca havia lido um livro, lia coisas básicas, essenciais para minha sobrevivência. Com muita dificuldade, consegui ler o texto e aquelas palavras mexeram comigo de uma forma que eu pensei: “aqui tem muita coisa bonita, eu preciso conhecer essas coisas.” Coincidiu que nessa mesma época, minha mãe trabalhava de empregada doméstica para uma família que estava se mudando e doou uns livros para minha mãe que os levou para casa. A junção desses dois acontecimentos foi o que despertou de uma vez por todas minha vontade de ler. A partir daí, do dinheiro que eu ganhava deixava uma parte comprar livros.  Ia para os sebos e comprava livros e aos 26 anos já tinha uma biblioteca com mais de 400 livros, todos lidos. Isso só com o 3º ano primário. Até que chega o momento em que percebo que não é suficiente só ler, então volto para a escola e faço o EJA (Ensino para Jovens e Adultos). Ao terminar, com quase 27 anos, conto com uma biblioteca com mil livros, faço o Enem e ganho uma bolsa para cursar Letras. Hoje sou a única pessoa da minha família que é graduada.

PET - A felicidade é uma arma quente foi seu primeiro livro de contos, como foi se aventurar como ficcionista?
Thiago - Faz três anos que eu surgi como escritor, mas eu tive a felicidade de meu primeiro livro, onde fiz uma espécie de homenagem a Ney Leandro de Castro, juntamente com Fátima Lima, também ex-aluna do curso de Letras da UnP, ter sido muito bem recebido pela comunidade literária.  Isso me abriu as portas da literatura potiguar. Eu comecei a fazer outros trabalhos, mas queria também ser conhecido como escritor, então eu fiz este livrinho (A felicidade é uma arma quente), que por sinal me deu muitas alegrias. Ganhei um prêmio com ele fora do Estado, num concurso onde havia mais de 120 livros na área de contos, então para mim valeu a experiência.

PET - Brunno poderia falar um pouco sobre seu livro Poesia de Anunciação?
Brunno - O nome Poesia de Anunciação veio muito da ideia de lançar mesmo, quando eu pensei nesse título - Anunciação, eu queria algo que as pessoas olhassem e entendessem: “alguém está chegando”. O processo de escolha dos poemas foi bem delicado, apesar do livro ter sido lançado em 10 de maio de 2014, ele não foi criado exatamente para o lançamento. Selecionei os poemas que compõem o livro entre os muitos que tenho dos 10 anos em que escrevo. Tem um pouco de cada coisa, ao todo são 45 poemas, entre sonetos, poesia rimada, poesia concreta, haicai. Poesia de Anunciação é muito esse “oi!”, “cheguei!”, “me deem passagem que eu também tenho algo a mostrar”.

PET - Thiago como você vê a literatura do RN hoje?

Thiago - A nossa literatura é muito rica, ela não deixa a desejar em relação à de outros Estados. Temos bastantes poetas, cronistas, romancistas, há uma diversidade de escritores e de gêneros literários e, como eu tenho acompanhado bastante essa produção contemporânea, vejo que tem surgido sempre novidades aqui no Estado.

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