De 8 a 14 de março, o curso de
Letras da UnP, com o apoio do grupo PET/Literatura Norte-Rio-Grandense,
realizou a XI Semana Mulher e Poesia, com o tema “A palavra é o meu
domínio sobre o mundo” (Clarice Lispector). O evento contou com a participação
das poetisas Anchella Monte e Lisbeth Lima e da jornalista e blogueira Sheyla
Azevedo, que, na ocasião, foram entrevistadas por Canniggia de Carvalho e
Talles Campello, alunos do 5a série de Letras e bolsistas do PET.
Lisbeth Lima
PET – Como se deu o seu encontro com a
fotografia?
Lisbeth Lima – Eu sou formada em Jornalismo, e o meu
encontro com a fotografia se deu quando eu
fiz uma disciplina
relacionada a isso, o que me fez continuar fotografando e acabou por me tornar
uma apaixonada pela fotografia.
PET – E a escrita, como surgiu na sua
vida?
Lisbeth Lima – Eu escrevo desde a minha adolescência e
era minha família e amigos que liam. Não tinha publicado nada ainda e a minha
primeira tentativa de mostrar os meus versos foi entrando em contato com
Abimael Silva, do Sebo Vermelho. Falei com ele por telefone: “olha, eu tenho
uns poemas que gostaria de mostrar pra ver se é o caso de publicar”, e marquei
pra me encontrar com ele na outra semana, o que não aconteceu, pois, naquela
mesma semana, eu vi um chamado, num jornal, para o Concurso Othoniel Menezes de
poesias da Capitania das Artes, e resolvi submeter os meus poemas ao concurso,
pois acho que é uma ótima oportunidade ter uma banca que lê e que é da área
lendo nossos textos. E depois de um tempo, isso de 2001 pra 2002, eu estava em
João Pessoa quando soube que tinha ganho o prêmio. Recebi o resultado por
telefone, e então tive que vir pra poder participar de todas as formalidades.
PET – Como é o passo a passo do seu trabalho
como poetisa?
Lisbeth Lima – Eu tenho os meus cadernos de escritos.
Primeiro, eu escrevo pra mim, pois acho que meu primeiro leitor sou eu mesmo.
Eu leio em voz alta até achar que ficou do meu jeito. Às vezes eu escrevo dois,
três poemas ao mesmo tempo. Uns ficam guardados. Até então eu fico inquieta e
procuro a palavra. Por vezes, refaço o que já guardei por muito tempo, o que é
normal.
PET - E as suas publicações?
Lisbeth Lima – Publiquei o meu primeiro livro com
edição de Abimael Silva. Daí pra frente eu escrevi muitos outros poemas que
foram guardados, contos e algumas coisas de literatura infantil, e não parei de
publicar, até o ano de 2010, data do meu livro mais recente. Mas tem poemas
ainda em andamento, andamento junto com a minha tese em literatura, de modo que
eu tenho um arquivo da tese e um arquivo de poemas: meus poemas são o recreio
da tese e a tese é o meu recreio dos poemas, entende?
PET – A respeito do livro Dormência,
Tarcisio Gurgel diz: “Sua estratégia em livro, com esse conjunto de sessenta
poemas, já contemplados com o prêmio Othoniel Menezes, surpreende e causa
admiração, porque nos releva uma poetisa que já se apresenta aos seus leitores
com consciência da dura condição de artesã da palavra. Nisso, aliás, ela se
aproxima de uma conterrânea já famosa, que orgulhosamente tornamos potiguar,
Zila Mamede”. O que você acha dessa comparação?
Lisbeth Lima – Eu nunca havia lido Zila, apesar de ela ser paraibana e de estarmos tão próximas do estado da
Paraíba e do Rio Grande do Norte. A conheci quando eu paguei a disciplina de Literatura do Rio Grande do Norte, no curso de
especialização em Literatura Brasileira, com o
professor Humberto Hemenegildo. Depois daí, tive a oportunidade de ver a
biblioteca de Zila e fiz um trabalho de fim de curso sobre ela. Na biblioteca,
havia livros autografados de João Cabral e Carlos Drummond. De fato, alguns
poemas meus parecem muito com os dela; eu me encontrei em alguns poemas dela.
Talvez os temas, a maneira como ela trata da vida, da morte, da existência, do sentimento; então é normal que se encontre coisas
parecidas.
PET – O grupo PET está com a “Semana da
Mulher e Poesia” e temos um tema: A palavra é meu domínio sobre o mundo.
Gostaríamos que você comentasse o poder que tem sua palavra, se é teu domínio
sobre o mundo.
Lisbeth Lima – Eu sempre tive um amor enorme pela
palavra. As palavras mesmo, as palavras soltas. É tanto que minha primeira
leitura foi o Caldas Aulete, o Dicionário Caldas Aulete,
em cinco volumes, ilustrado. E meu pai tinha os cinco volumes em casa e eu
abria, nem sei quantos anos eu tinha, olhava uma palavra, olhava a de cima,
olhava a de baixo e sempre fui curiosa mesmo pelas palavras, para saber o que elas
significavam. Aliás, eu consulto sempre o dicionário,
realmente é uma fonte interessante. Mas o que eu quero dizer é o amor pela
palavra.
PET – Lisbeth, você é poetisa, estudante,
mãe. Ao seu ver, qual a situação da mulher hoje? Quais os desafios e
perspectivas?
Lisbeth Lima – Eu acho que o desafio maior é o de
sempre: ser a escolhida para ter o filho pela natureza. Então, existe sempre a
dúvida sobre trabalhar, cuidar dos filhos. Eu já falei em outros lugares que eu quis ser mãe, quis criar
meus filhos, quis cuidar mesmo. Tive dois filhos, quase filhos únicos, porque a
diferença é de cinco anos e meio. Então, Miguel tem hoje onze anos e Gabriel
tem dezesseis. Meu trabalho sempre foi em casa e, nesse aspecto, trabalhar com
a poesia pra mim foi muito bom porque sempre trabalhei perto dos filhos. As
minhas irmãs todas trabalham fora
e uma vez meu filho mais velho falou: “mãe, por que você não fez concurso? Por
que você não trabalhou fora?”. Sinto, às vezes, que se você se dedica é
criticada, e se você não se dedica, você também é criticada. Atualmente, eu
acho que está muito melhor porque a mulher tem a oportunidade de escolher, o
que antigamente não acontecia. As pessoas têm direito de escolha e a minha
opção foi a das
antigas, a de ficar em casa.
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