De 8 a 14 de março, o curso de
Letras da UnP, com o apoio do grupo PET/Literatura Norte-Rio-Grandense,
realizou a XI Semana Mulher e Poesia, com o tema “A palavra é o meu
domínio sobre o mundo” (Clarice Lispector). O evento contou com a participação
das poetisas Anchella Monte e Lisbeth Lima e da jornalista e blogueira Sheyla
Azevedo, que, na ocasião, foram entrevistadas por Canniggia de Carvalho e
Talles Campello, alunos do 5a série de Letras e bolsistas do PET.
Anchella Monte
Anchella Monte - A poeta, eu
prefiro, nasceu com a leitora, com a paixão pela leitura, então, fui me
identificando com a escrita; lendo muita poesia, copiando no caderno,
recortando, fazendo ilustração ao lado. No meu tempo, que já faz algum, havia
muita publicação de poesia em jornal, coisa que não existe mais, até quando há
lançamento de livro e se faz entrevista, dificilmente, se coloca uma estrofe
que seja do poema do autor. Em outros tempos, em todo jornalzinho de bairro, de
cidade, se publicava poesia.
PET - Quais são as suas influências?
Anchella Monte - Nessa primeira
fase da vida eu lia muito os poetas românticos e os parnasianos, porque eram os
mais publicados, como Castro Alves, Casimiro de Abreu, Gustavo Teixeira, Olavo
Bilac. Depois que eu conheci Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,
Cecília Meireles, Mário Quintana, minhas grandes paixões, tornaram-se amores
eternos. Então, creio que as minhas influências vieram de muitas fontes, muito
misturadas, pois eu li os parnasianos, simbolistas, modernistas,
pós-modernistas. Aproveitei um pouco de cada fonte. Não posso deixar de lado Fernando Pessoa, “estes” que me permitem o
autoconhecimento, que adoro ler em voz alta, andando pela casa, quando consigo
ficar só. E os poetas potiguares, tantos, tão bons.
PET - E o seu poema, como surge?
Anchella Monte - Eu sou muito
observadora, mas muitas coisas que escrevo surgem da minha vida, pois acho que
não tem como separar a sua vida da matéria-prima poética. Também tem muitos
elementos relacionados a minha infância, que foi uma fase muito rica. Isso à
parte, sou muito de olhar a vida, as
pessoas. Por exemplo, tem um poema, no Temas
Roubados, chamado “O carneiro”, que parte de uma história que uma amiga me
contou sobre um carneiro morto para um churrasco, quando, com a família,
comemorava na praia uma data festiva. Ou
seja, surgem poemas de relatos, de coisas que vejo, que sinto, de leituras.
PET - Depois que você lê o seu poema publicado, existe a vontade de
voltar a ele, revisá-lo, dizer de outra forma?
Anchella Monte - É meio
complicado porque, dificilmente, quando eu termino de escrever um poema eu acho
que está pronto; fico com ele na mente.
Acho que os escritores, em geral, têm essa vontade de mexer no texto. Então não
é uma sensação de alívio, de satisfação; sempre fico me perguntando se está
bom.
PET - O seu primeiro livro foi uma parceria com outras pessoas. Como se
deu esse processo?
Anchella Monte – Todos nós éramos
muito jovens; era um grupo de pessoas que adoravam ler poesia, literatura. Nós
nos encontrávamos na maioria das vezes em minha casa, mas até na praia, para
ler poesia e tocar violão, todo mundo empolgado com a vida, filosofando o tempo
todo. Líamos O Despertar dos Mágicos, Krishnamurti, ficção científica e muita
poesia. Todos nós escrevíamos, e então alguns resolveram fazer uma seleção e,
depois, publicamos de forma bastante artesanal, quase rudimentar, com a ajuda
do tio de um dos companheiros, que trabalhava na gráfica do então ETFRN. Foi
lindo, foi uma ótima experiência.
PET – Entre os seus livros, há o preferido?
Anchella Monte – Não, não tenho.
Mas, se levarmos em conta a elaboração poética, da responsabilidade com o
leitor, sem dúvida nenhuma escolho Pesos
e Penas, livro que recebeu ótimas críticas de colegas de poesia.
PET - E a Anchella professora?
Anchella Monte – Eu estou em sala
de aula há 33 anos. Sempre trabalhei muito com adolescentes, no Ensino
Fundamental II; já ensinei no Ensino Médio, mas não houve afinidade, por isso
prefiro os mais novos. E, enfim, a gente brinca, briga (risos). Eu já estou
“pedindo arrego”, a gente vai cansando, e eu também tenho outros projetos com a
escrita e muita vontade de trabalhar com revisão, o que gosto sempre de fazer.
Aliás, no ano passado, participei, junto
com um amigo, da revisão da obra completa de Henrique Castriciano, uma
atualização linguística, para ser mais exata.
PET - Você acha que a professora influi no momento de criação da
poetisa?
Anchella Monte – Talvez na
experiência de vida e no próprio trabalho com a palavra, pois eu sou professora
de Língua Portuguesa, o que me faz estar sempre observando a palavra, a palavra
na frase, o efeito da palavra no contexto, nas pessoas que as ouvem.
PET - Você vê a sua palavra como o seu domínio sobre o mundo?
Anchella Monte – Eu acho que a
palavra é que me domina! Nós somos a palavra, nós pensamos palavras, até os
nossos sentimentos se moldam através da palavra; enfim, lidar com a palavra é a
ligação com a vida, é o nosso fio, nosso elo com aqueles com os quais
compartilhamos este mundo e este tempo.
Anchella foi imprescindível para minha formação, pessoa/”poeta”.
ResponderExcluirMaria Luiza, obrigada! Um grande abraço.
ExcluirObrigada, grupo PET! Principalmente pela forma respeitosa e gentil com a qual nos acolheram. Meu agradecimento especial à professora Conceição Flores, pelo estímulo (visível!) dado aos alunos no sentido de amarem literatura e valorizarem a produção potiguar. Obrigada ainda ao professor Máximo, solidário no momento em que não me senti fisicamente bem. Abraço em todos e coloco-me à disposição sempre que precisarem.
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