O poeta Antônio Francisco foi convidado especial da IX Jornada de
Culturas Brasileiras, realizada no dia 24 de setembro. Atendendo ao convite do
PET, chegou cedo e concedeu uma entrevista.
Kennedy - Antônio Francisco, seja bem-vindo à
UnP! Para iniciarmos a nossa conversa, gostaria de ler um trecho do artigo de
Clotilde Tavares publicado, em 2002, na Tribuna do Norte:
Curiosamente, resolveu assumir
oficialmente a condição de poeta há apenas dois anos, e é como se uma represa
de inspiração, há tanto tempo armazenada, de repente se rompesse sob o impacto
de um poderoso cataclismo.
Aproveitando a metáfora de Clotilde Tavares: quando caiu a primeira gota
daquilo que viria a se tornar uma represa – o primeiro contato com o cordel?
Antônio Francisco -Eu digo assim:
Enquanto o sapo cantava na boca do cacimbão,
Titia estava debaixo da chama do lampião,
Lendo pra nós o cordel Juvenal e o dragão.
E toda a noite era assim a cena se repetia,
Entre os cascos do cavalo do vaqueiro Zé Garcia,
Ou entre os segredos de coco verde e melancia.
Meu primeiro contato com o cordel foi por meio de minha tia, com ela
aprendi a ler os cordéis e sempre gostei de estar entre os cantadores de
violas, ou fazendo paródias. Naquele tempo, minha vida era centrada em correr
de bicicleta e jogar bola, então ficou muita coisa guardada dentro de mim. Mas
hoje em dia eu começo a me lembrar de quando estava no exército e das paródias
e poesias que fiz quando fui para São Paulo. Agora, publicar mesmo, eu
publiquei já depois de velho.
Kennedy - Quando começou a criar seus cordéis e
percebeu que tinha talento?
Antônio Francisco - Foi interessante. Eu fiz um
cordel e mostrei a Luíz Campos - um mestre da literatura de cordel e grande
poeta - ele perguntou quem fez. Eu disse: foi eu! Ele respondeu: ‘Mas homi é
dez sílabas, a terceira sílaba é tônica, a sexta e a décima, é uma maneira mais
difícil de escrever.’ Foi assim que escrevi e comecei, Crispiano Neto foi quem
disse: ‘eu vou publicar’.
Kennedy - Você costuma fazer viagens de
bicicleta. Como elas influenciaram em sua escrita e na sua vida?
Antônio Francisco - Quando se chega a uma certa
idade você tem um certo conhecimento guardado e as viagens me ajudaram muito,
porque conhecer pessoas é muito interessante. Eu conheci muita gente em
situações difíceis. Uma vez, cheguei debaixo de uma bueira (ponte), eu e mais
dois, lá um cara estava cozinhando e perguntei a ele se nós o estávamos
incomodando, ele disse: ‘Não isso aqui é público, estou aqui porque preciso e
moro aqui debaixo, vocês podem ficar à vontade.’ Nós tomamos um banho lá e ele
disse: ‘Eu num chamo vocês para almoçar porque o meu comê é de
esmola. E eu disse: eu como! Almocei com ele e nos tornamos amigos, voltei lá
outras vezes e até sua morte mantivemos amizade. Outra vez conheci um grupo de
ciganos, aqueles caras que fazem aviãozinho (artesanato). Para mim foi uma
aprendizagem muito grande ver como eles vivem. Conheci muita gente interessante
durante essas viagens, aprendi a pedir carona, pedir dormida.
A entrevista foi interrompida por uma boa causa: a visita às turmas da
Escola Municipal IV Centenário, que haviam lido e dramatizado o cordel Os
animais têm razão. Os alunos ficaram eufóricos com a presença do poeta que
brindou as turmas com a recitação performática da sua poesia, tendo sido
aplaudido vivamente pela garotada.
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