Rizolete Fernandes natural da cidade de Caraúbas, é bacharel em Ciências Sociais pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN (1977). Em 2004, lançou A
história oficial omite, eu conto: mulheres em luta no RN, livro sobre a militância
feminista no Rio Grande do Norte. Em 2006, publicou o primeiro livro de poesia
Luas Nuas, ao qual se seguiram Canções de abril, também de poesia, e
Cotidianas, livro de crônicas. O último livro publicado Vento da tarde. Viento
de la tarde foi lançado em 2013, em primeira mão, em Salamanca. Nesta
entrevista, a autora discorre um pouco sobre sua vida como militante feminista
e sobre o fazer poético.
PET- Quando nasceu a poetisa? Quais são
as suas influências?
Rizolete: Minhas primeiras leituras foram os
folhetos de cordel, facilmente encontrados em cidades do interior, como
Caraúbas-RN, de onde venho. Depois, passei a ler tudo o que me caísse às mãos,
sobretudo romance. A poetisa nasceu desde que eu comecei a sentir necessidade
de escrever e, ao fazê-lo, sempre me expressei na forma de poesia,
poeticamente. Mais tarde, já em Natal, eu li a poesia de Auta de Souza, Myriam
Coeli, Cecília Meireles, Franklin Jorge, Drummond, Vinícius, Ferreira Gullar,
Pablo Neruda, Pessoa e outros. E continuei lendo, tanto poesia, como prosa. Eu
concordo quando se diz que o escritor é a consequência de tudo que lê.
PET- Você ajudou na criação de grupos
feministas no RN. Como se deu o início desses grupos e qual a participação das
intelectuais de Natal?
Rizolete: Podemos afirmar que o surgimento do
movimento feminista no Rio Grande do Norte se deu paralelamente ao
fortalecimento do movimento feminista no Brasil e mundo e, no caso brasileiro,
junto com a luta contra a ditadura, instalada com o golpe civil/militar de
1964. Faço questão de frisar que o pioneirismo do RN na conquista do voto
feminino foi decorrência da campanha sufragista encabeçada pela paulistana
Bertha Lutz, que, em ação junto aos parlamentares no Congresso Nacional,
“convenceu” o Deputado e futuro Governador do RN, Juvenal Lamartine, a
adotá-lo, no final da década de 1920, não sendo, portanto, como afirmam por aí,
consequência de lutas das norte-rio-grandenses – lutas que não existiam, à
época.
No
fim da década de 1970 e por todos os anos 80 e seguintes, surgiram o Centro da
Mulher Natalense, iniciativa da estudante de Direito, Rossana Sudário e, em
seguida, o Movimento Mulheres em Luta, a União das Mulheres de Natal, o
Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, o Grupo Autônomo de Mulheres e o
Coletivo Leila Diniz, dos quais deixei de participar, apenas, da criação do
primeiro que, em 1982, fundiu-se com o Mulheres em Luta. Claro que outros
grupos surgiram, ao longo desse tempo, mas, desde que me afastei do dia-a-dia
do movimento, a partir dos anos 2000, não tenho acompanhado essa dinâmica.
Respondendo
à segunda parte da pergunta, no início, o feminismo encontrava resistência em
alguns setores da sociedade, como costuma acontecer diante do novo. Poucas
jornalistas, como Ana Maria Cascudo e Graça Pinto, abriam espaço para o
movimento. Em 1981, um grupo de professoras da UFRN, coordenado pela Professora
Ângela Tygel, realizou o Seminário “Mulher em Debate”, tendo como palestrantes
Wani Teixeira, Dalcy Cruz, Renira Lucena, Perpétua Wanderley, Maria Bezerra,
Salete Machado, Ruth Dantas, Sarita Moysés, Socorro Trindad e Zélia Mariz, que
teve enorme importância para nós, iniciantes no movimento.
Depois
disso, continuamos contando com o apoio da Professora Dalcy Cruz e
eventualmente, a colaboração de Maurinete Silva, Vera Pestana Rocha, Diva Cunha
e, de modo definitivo, de Elizabeth Nasser, que, por ocasião do evento de 1981,
se encontrava fora do país e, no retorno, incorporou-se à luta, da qual não
mais se afastou. Mas, de um modo geral, o pessoal da cátedra se interessou mais
tarde pelo feminismo, preferindo a produção de ensaios e teses sobre o tema.
Fora
dessa instituição e além da colaboração feminina, contávamos com a
solidariedade masculina, como o escritor e jornalista Nelson Patriota, que
noticiava os eventos do movimento, os sociólogos Lincohn Moraes e Manoel Duarte
contribuíam com as discussões teóricas e 33 entidades da sociedade civil
subscreveram os documentos do I Encontro Estadual da Mulher, de 1982.
PET- Como você vê a poesia feminina no
RN?
Rizolete: Com otimismo. A poesia no RN tem uma
produção de boa qualidade, digna de ser bem apreciada por quem a estude. Uma
tradição que teve início com Auta de Souza (1876 - 1901) e tem se mantido ao
longo do tempo, basta ver a atual safra de novas poetisas.
PET - Qual foi a sensação ao lançar o livro Vento da tarde, em
Salamanca, onde ocorreu um encontro tão importante, no qual estavam presentes
50 poetas de 12 países?
Rizolete: Salamanca/Espanha foi a viagem da
minha vida literária, pois tive a oportunidade de ver minha poesia dar um salto
diretamente do RN para a Europa, sem passar por outras regiões brasileiras,
onde, aliás, também desejo um dia estar. E da Espanha, espalhar-se para os
países presentes ao XVI Encontro de Poetas Ibero-americanos, como Colômbia,
Chile, Cuba, entre outros países latinos, além de Portugal e Japão. Meu
tradutor espanhol, o poeta e professor da Universidade de Salamanca, Alfredo
Pérez Alencart, por sua vez, fez chegar meus poemas à poetisa búlgara Helena
Boncheva, que traduziu alguns para sua língua.
PET- Você acha que o escritor deve intervir na sociedade?
Rizolete: Claro que sim, como cidadãos e
cidadãs, nós todos temos, ou deveríamos ter, responsabilidade perante a
sociedade. Podemos, então, veicular nossas ideias através da literatura, no
caso dos poetas, através dos seus versos. O escritor não é nenhum ser iluminado,
pairando acima dos outros seres, mas alguém que, vivendo em sociedade, deve
intervir, se colocar politicamente, visando transformá-la para melhor, sempre
buscando aperfeiçoar – no nosso caso – a jovem democracia brasileira.
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